
O dia está quente. Do outro lado da janela, a Rua Gonçalo Cristóvão assume uma imagem cinzenta e contemporânea: os carros atrapalham-se nos paralelos, nos passeios desfilam fatos cinzentos, saias travadas e estudantes Tokio Hotel. O costume.
O calor dá cabo de mim. Como um peixe que abre e fecha a boca com olhos fora de órbita, hoje descobri que trabalho num aquário. Antes isso que um pardieiro. Parece que é desta que vou usar o leque que comprei em Santiago. Olé.
Do outro lado da parede, a Maria e a eterna luta com os servidores. " Preciso de um cigarro." No rés-do-chão mais uma centena de vizinhos sorvendo tabaco e expirando stress. Stress que atrai stress. Somos todas umas stressadas. Excepto a Alex, que apenas sorri com a formigas atómicas que tem como colegas e que fervem no aquário quente.
E o Francisco que não chega para resolver a trapalhada dos TIC´s. No canto da sala de reuniões, uma japoneira sorri para mim. "É a planta do mau-olhado", disseram-nos. Bolas, repele ou atrai o dito cujo??
Numa reunião, o meu interlocutor começa a suar pelas estopinhas. E eu a discutir Inglês, Polaco e Mandarim, quando o ar condicionado é Língua Universal. Esqueci-me de o ligar. Ai o leque. Olé.
O telemóvel toca. Num pedaço de uns cem metros quadrados, corremos quilómetros todos os dias, para lá e para cá, para lá e para cá. Como nesse momento. Do outro lado da linha, alguém me diz: " Já reconheço os teus passos quando estás a andar." Pudera, os do andar por baixo também devem reconhecer, passo a vida a bater os pés, com ou sem salto. " Nunca saias dos teus saltos altos.", já diz a mãe da Alex. Está bem, não sairei, mas faço barulho que se farta.
Ao contrário da Maria, a Soprano, que fala baixinho baixinho, mas que canta como a Callas. Olé. Olé não, que essa era grega. Gregas é como nós ficamos quando não temos o Francisco e não temos servidor.
Maria fuma mais um prego para o caixão. E eu ligo a máquina de café: intravenoso, ninguém se lembrou de patentear? Temos post-its de lembrete: nunca oferecer café à Soprano. Nem rebuçados à Sofia. Á Alex pode-se oferecer tudo, entra sempre no ritmo aluciante.
Finalmente o Francisco a escarafunjar os pc´s. E a Maria enfiada numa sala, desta vez a discutir lingua gestual.
Desconfio que devia ser a nossa Língua Universal. Excepto quando o chefe liga, nunca esquecer! Assertiva e confiante. E os saltos a bater no soalho. E o " Alô Alô" a tocar. E as gargalhadas sobre os temas das revistas habituais. E a RFM SEMPRE A TOCAR! " Mas não dá outra coisa??" " Que preferes, Renascença?" A missa no meio da estufa, reza para facturares no meio do pico do Verão. É melhor deixar a frequência, pode ser que abençoe e a japoneira deixe de ter poder. Onde está o silêncio?? Perdeu-se pelo caminho. Não interessa nada, mulheres juntas são como petazetas: só têm graça se estalarem com barulho.
Mas quem disse que trabalhar com mulheres é confuso?
Como alguém que conheço diria: uma delícia!
Olé.
Os saltos altos são mais convincentes, assertivos, giros, andamos sempre de saltos - será coincidência ou não?!
ResponderEliminarHehehe Já digo eu desde inicio... temos que preparar o KIT de recepção par qualquer colaborador novo... uma malinha que dentro terá unica e exclusivamente uma camisa de forças... porque uma certeza podemos ter... aqui... mais dia menos dia todos nós vamos precisar dela ;)
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